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Santa Catarina tem sua primeira Mestra de Artes e Ofícios devidamente reconhecida pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC), desde a criação do Decreto-Lei 2504/2004. A artesã, costureira, professora, decoradora, cozinheira, oficineira, artista e carnavalesca Valdeonira Silva dos Anjos recebeu o certificado de registro em uma cerimônia cheia de emoção e referências à cultura afro-brasileira, realizada nesta terça-feira, 30 de agosto, no Palácio Cruz e Sousa.

A homenagem veio às vésperas de a manezinha, natural do Morro da Caixa, completar 87 anos e diz respeito ao trabalho que dona Val, como é conhecida, realizou ao longo de sua vida como replicadora da arte do fuxico. A técnica artesanal utiliza retalhos de tecidos, cortados e costurados em moldes circulares, a partir dos quais são montadas peças de vestuários, utilidades domésticas, adornos e assessórios de moda e obras artísticas/contemplativas. Além de contribuir para a preservação da cultura, ainda gera emprego e renda aos artesãos.

Não há um registro preciso sobre as origens do fuxico, porém algumas pesquisas apontam para seu surgimento ainda no período escravocata brasileiro, quando, nas senzalas, sobretudo da região nordeste, mulheres aproveitavam sobras tecidos roupas confeccionadas para os residentes da casa-grande, para criação de adornos e materiais utilitários como almofadas, roupas e bolsas. "O fuxico é uma das armas de liberdade dos escravos", definiu a homenageada durante a solenidade de entrega do registro.

"As potencialidades que permitem à senhora Valdeonira a titulação de Mestra se fazem não necessariamente por ela ser a única detentora da técnica de fuxico, ou por se destacar através de 'algum grande feito heróico'. A excepcionalidade da senhora Valdeonira se faz justamente porque ela representa gerações de mulheres negras que foram, e são, ainda, a base da estrutura de uma sociedade demarcada pelos papéis de gênero e das segregações por raça, mas que raramente são retratadas nos livros de história ou dignas de homenagens em monumentos ou placas. E também porque muitas mulheres negras se reconhecem nela, compreendem que, dentro das perspectivas filosóficas de matriz africana, a valorização do conhecimento dos mais experientes, das trocas de conhecimento e das convivências que se baseiam na valorização dos princípios da coletividade e dos sentidos do viver em comunidade, nas quais pessoas como a senhora Valdeonira se destacam", avalia o parecer emitido pelos técnicos da FCC para a concessão da honraria. A certificação nada mais é do que a legitimação institucional de algo que já é reconhecido junto à comunidade com a qual a Mestra tem contato.

Sobre a homenageada

Valdeonira Silva dos Anjos nasceu no Morro da Caixa, região central de Florianópolis (SC), em 26 de setembro de 1935. Foi aluna da professora e deputada Antonieta de Barros no ensino básico e se formou em Estudos Sociais, com habilitação em História, em 1991. Foi professora da rede de educação básica em escolas públicas da região de Florianópolis até sua aposentadoria.

Ministrou diversos cursos de artesanato, com ênfase nas técnicas de fuxico, atuou em agremiações carnavalescas, organizações associativas, conselhos municipais e estaduais, além de organização de eventos, geralmente ligados a manifestações artísticas e culturais afro-brasileiras. É uma das fundadoras da Associação das Mulheres Negras Antonieta de Barros (AMAB), dedicada a discutir políticas públicas e valorização do trabalho da mulher negra.

"Pelas experiências de vida de Valdeonira Silva dos Anjos, entendemos que ela traz consigo essas perspectivas de valorização dos saberes a partir das formas como se empenha em transmití-los", resume o parecer.

Confira o programa Miscuta de 29 de agosto de 2022, com trilha sonora de Michael Jackson.

O Teatro Álvaro de Carvalho (TAC) volta a se encontrar com seu público no dia 23 de agosto com o espetáculo da Camerata Florianópolis em que cantará com músicos locais. A apresentação começa às 20h.

Ainda na semana da reabertura, o teatro mais antigo da capital catarinense será palco, também, do monólogo "O Pior de Mim", com a atriz Maitê Proença. As apresentações ocorrem nos dias 26 e 27 de agosto, às 20h; e 28 de agosto, às 18h.

Destacada em sua versão digital entre as melhores peças de 2020 pelo jornal O Globo e pelo portal Observatório do Teatro, e indicada ao Prêmio Arcanjo de Cultura, “O Pior de Mim”, que tem texto de Maitê Proença e é estrelada pela atriz, foi reconcebida para os palcos físicos. Em cena, Maitê revisita momentos marcantes de sua vida. Numa interlocução direta com a plateia, a atriz reflete sobre como sua conturbada história familiar repercutiu na vida profissional, os eventuais bloqueios desenvolvidos e tudo que precisou fazer para se libertar. Ela fala ainda da mulher de 60 anos no Brasil, de machismo, misoginia, dos preconceitos enfrentados.

Confira o programa Miscuta de 15 de agosto de 2022, com trilha sonora de Bob Marley e The Wailers.

Confira o programa Miscuta de 22 de agosto de 2022, com trilha sonora de Oswaldo Montenegro.