A mais antiga manifestação religiosa de Santa Catarina, a Procissão do Senhor Jesus dos Passos, de Florianópolis, teve o seu registro de Patrimônio Imaterial de Santa Catarina renovado. Em solenidade realizada na manhã de sexta-feira (31) na sede da Irmandade que leva o nome da procissão, o presidente da Fundação Catarinense de Cultura, Rodolfo Pinto da Luz, fez a entrega do documento, que será também assinado pelo governador do Estado, Raimundo Colombo. O ato ocorreu na véspera do evento, que neste final de semana marcará os 251 anos de sua realização ininterrupta.
O registro de bens imateriais de Santa Catarina foi instituído pelo Decreto 2.504, de setembro de 2004, tendo a Procissão do Senhor Jesus dos Passos como a primeira e atualmente única manifestação contemplada. O processo de renovação foi submetido à análise da Diretoria de Patrimônio Cultural da FCC, sob a responsabilidade do historiador Rodrigo Rosa, que emitiu parecer favorável e posteriormente aprovado pelo Conselho Estadual de Cultura.
Para o presidente da FCC, Rodolfo Pinto da Luz, quando a imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos sair em procissão pelas ruas de Florianópolis a partir deste sábado (1) será reverenciada não só como a tradição religiosa, mas também como um bem cultural e histórico de valor intangível. "Trata-se atualmente do nosso único bem imaterial registrado e um reconhecimento do seu valor pela cidade e pelos catarinenses. Existem muitas manifestações culturais no Estado, dada a s ua rica diversidade construída por mais de 20 etnias que cumprem um papel fundamental na preservação da memória e das tradições e que precisam ser reconhecidas", explicou Rodolfo ao destacar o trabalho da atual administração em ampliar ainda esse ano o número de registros de bens imateriais.
O documento de renovação do título estadual da Procissão do Senhor Jesus dos Passos servirá também para complementar o processo de registro de Patrimônio Imaterial Nacional que desde 2016 está sob análise do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Ritual Simbólico
"A Procissão do Senhor dos Passos pouco mudou em seus 251 anos de realização pela Irmandade do Senhor Jesus dos Passos, fundada no dia 1º de janeiro de 1765, tendo no quadro dos fundadores o madeirense Padre Marcelino de Sousa e Abreu e os açorianos Tomás Francisco da Costa, Manuel de Sousa da Silva, Manuel de Medeiros e Sousa e Manuel Vieira Maciel. Nos dias atuais a Irmandade desempenha um relevante papel na vida de Florianópolis. Sua atuação se destaca no exercício da caridade, na administração do Imperial Hospital de Caridade, construído em terreno doado pelo açoriano, da Ilha do Faial, André Vieira da Rosa e na preservação ambiental do seu entorno, no Morro da Boa Vista.
No livro de Atas da Irmandade há o registro minucioso da primeira procissão realizada em 1766, dois anos após a chegada da veneranda imagem. Rituais simbólicos que atravessaram as dobras do tempo e muitas gerações - a Lavação da Imagem do Senhor Jesus dos Passos, três dias antes da procissão; a Missa e a Procissão do Carregador; a Transladação das Imagens e a Procissão do Encontro, quando as imagens do Senhor dos Passos, o Filho e Nossa Senhora das Dores, a Mãe se encontram em frente à Catedral. Momento de imensa emoção. O povo silencia, ouve-se o Sermão do Encontro. Dali as duas procissões se unificam e seguem em direção a Capela do Menino Deus, no Morro da Boa Vista, junto ao Imperial Hospital de Caridade onde permanecerá até o ano seguinte. Pelo caminho, os promesseiros, o som da matraca e a cada parada o canto de dor da Verônica sobe aos céus da Ilha. é a força da fé, da tradição que a cada ano se renova com igual fervor.
Na volta de 360º da imagem do Senhor dos Passos, ao pé do morro, a tradicional despedida simbólica do "Senhor dos Passos aos seus filhos e à Ilha". Olhando aquele mar de gente em constante movimento, como as ondas do mar, não há como não reconhecer o seu maior significado para toda população que ali se encontra numa celebração de fé em comunhão com suas raízes seculares e sua história cultural." (Por Lélia Pereira da Silva Nunes, historiadora e representante da Câmara de Patrimônio Cultural Material e Imaterial do Conselho Estadual de Cultura)
Fonte: Assessoria de Comunicação FCC